Toda criança (e vamos ser sinceros, todo adulto fã de super-heróis
também) já se fez a pergunta um tanto ingenua, mas inevitável: será que poderia
ser verdade? Será que bastaria ser picado por uma aranha radioativa para se descobrir
dono de grandes poderes e grandes responsabilidades?
Abaixo, a gente tenta responder a essa pergunta tendo em mente alguns
dos superpoderes mais emblemáticos de todos os tempos. A resposta curta é que é
muito mais fácil ser Batman (o sujeito cheio de apetrechos tecnológicos que os
usa para ter um desempenho sobre-humano) do que Homem-Aranha ou Hulk. E isso
por um motivo muito simples: o organismo humano é uma máquina tão azeitada que
modificações como as que seriam necessárias para fazer um superpoder funcionar
exigiriam outras alterações, reorganizando o organismo inteiro.
Por isso mesmo, a chance de um acidente radioativo ou de uma mutação nem
único gene levarem a essas mudanças praticamente inexistentes. Seria como jogar
1 milhão de moedas ao mesmo tempo e tirar "cara" todas as vezes. Para
esse tipo de "milagre" modificador do organismo, o único jeito é
esperar a coisa acontecer lentamente, do jeito antigo: por meio da evolução biológica.
Tecer
Teias - Homem-Aranha
Comecemos dizendo que a vida seria comparativamente mais fácil (embora
não realmente fácil) para Peter Parker dos quadrinhos, para quem o lançador de
teias é uma geringonça criada em laboratório, do que para o Homem-Aranha dos
primeiros filmes, cujo organismo é responsável por fabricar a teia.
Isso porque já há muitas pesquisas tentando criar métodos tecnológicos
para produzir a seda
de aranha, nas dimensões
desejadas. O mesmo não vale, claro, para a produção de teias no interior de
pulsos humanos.
O interesse se justifica porque
as teias de aranhas possuem propriedades sensacionais, de fato. Elas combinam a
capacidade de se esticarem em fios com extrema resistência ao rompimento:
proporcionalmente, quase todas superam o aço de alta qualidade nesse quesito, e
as de algumas espécies chegam a ser dez vezes mais difíceis de romper que o
kevlar, material usado em coletes a prova de bala.
Cientistas já conseguiram modificar geneticamente bactérias, bichos-da-seda
e até cabras para que produzam as proteínas que compõem a teia. No entanto,
ainda falta dominar a técnica de transformar as substâncias em fios longos e
______.
Andar
pelas paredes - Noturno
Nesse caso, não há muito o que inventar. As boas e velhas lagartixas
provavelmente são as melhores fontes de inspiração.
Os bichos conseguem andar pelas paredes graças a um exército de pelos
microscópicos distribuídos por uns dedinhos. São milhares de pelos por dedo,
cada um deles com 100 micrômetros (milésimos de milímetros) de comprimento e 5
micrômetros de diâmetro, mais finos, portanto, do que um fio de cabelo humano.
Os pelos especiais estão distribuídos de tal maneira pelos dedos dos
répteis que, ao mesmo tempo que permitem a aderência à superfície que eles
estão escalando, também ajudam o bicho a se descolar do apoio quanto decidem se
movimentar de novo.
Invisibilidade
- Mulher Invisível
Existe a possibilidade teórica de
criar um aparelho capaz de transformar uma loira comum em dublê de Sue
Richards, a Mulher Invisível, heroína do Quarteto Fantástico. A chave para isso
depende de um conceito que todos aprendemos no ensino médio: o índice de
refração.
"Refração" nada mais é que o fenômeno que ocorre quando a luz,
ao viajar de um meio para outro, tem a sua velocidade padrão (cerca de 300 mil
km/s no vácuo) alterada. Dá pra ver isso toda vez que você mergulha
parcialmente um palito num copo d`água, como a luz fica mais lerda ao viajar
pelo liquido, a impressão que se tem é que o palito está "quebrado".
O índice de refração nada mais é que a medida dessa mudança.
Ora, se fosse possível criar um
objeto (vamos chama-lo de “manto de invisibilidade”) com índice de refração
negativo, a luz, em vez de atravessá-lo, ficaria apenas “em torno” do
dito-cujo, deixando-o invisível.
Cientistas de vários países já conseguiram construir metamateriais
(composto complexo de vários materiais diferentes) que realizam sua façanha
para fatias especificas do espectro da luz (como a luz vermelha). O desafio
agora é abranger toda a luz que os olhos humanos captam.
Voo
– Superman
Essa é difícil, ao menos do jeito clássico que todos amamos ver quando
assistimos a um filme do Superman. A questão é que não há muito como conceber
um sujeito que levante voo “por seus próprios meios” sem bater asa, sem um
jetpack, sem nada. E nem adianta postular “ondas gravitacionais” emanando do
corpo do Último Filho de Krypton.Não cola.
A coisa seria só ligeiramente mais fácil se a estratégia fosse ter asas
de verdade, tal e qual o Arcanjo, dos X-Men. E que a estrutura do corpo humano
é um bocado maciça, e o ato de bater as asas para levantar voo exige uma
musculatura poderosíssima. Nosso candidato a mutante voador precisaria, em
primeiro lugar, ganhar adaptações, como os ossos “ocos” das aves, se quisesse
ter alguma chance de levantar voo com asas normais, e não monstrengos de 20
metros de envergadura ou mais.
Fator
de Cura – Wolverine
O grande problema do sensacional poder de Wolverine é a velocidade da
regeneração do mutante mal-humorada.
Claro que seria possível melhorar consideravelmente o processo de
cicatrização natural (alguns pesquisadores já estão testando o uso dos chamados
fatores de crescimento, substâncias ligadas à construção natural dos tecidos,
para acelerar a cura de ferimentos profundos em animais de laboratório.
Mas um metabolismo capaz de eliminar qualquer tipo de machucado em
segundos é quase impossível porque os seres vivos dependem de sinais químicos
para, por exemplo, recrutar células “tapadoras de buraco “ e esses sinais
demoram para se propagar pelo corpo.
A outra “metade” do poder do mutante canadense, no entanto, pode se
revelar potencialmente viável. Trata-se da capacidade de regenerar quase
qualquer tipo de ferimento, como danos catastróficos a um órgão ou mesmo a
amputação de um membro (coisa da qual o Wolverine não precisa, já que membros,
quando cobertos por adamantium, são “incortáveis”).
Cada vez mais cresce o
conhecimento sobre as chamadas células-tronco, capazes de se transformar em
qualquer parte do organismo. Controlá-las seria a chave da regeneração, mesmo
de membros inteiros, como as lagartixas conseguem fazer com sua cauda.
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